segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Salmo 78




SALMO 78 (77) 

Sem memória não há fidelidade

Poema. De Asaf.

1     Povo meu, escuta a minha instrução, dá ouvidos às palavras da minha boca.

2     Vou abrir minha boca em parábolas, vou expor enigmas do passado.

3     O que nós ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais,

4     não o esconderemos aos filhos deles, nós o contaremos à geração futura:

      os louvores de Javé, seu poder e as maravilhas que realizou.

5     Porque ele estabeleceu uma norma para Jacó e deu uma lei para Israel: ordenou aos nossos pais que as transmitissem a seus filhos,

6     para que a geração seguinte as conhecesse, os filhos que iriam nascer.

      Que se levantem e as contem a seus filhos,

7     para que ponham em Deus a sua confiança,

      não se esqueçam dos feitos de Deus e observem os seus mandamentos.

8     Para que não sejam como seus pais, uma geração desobediente e rebelde,

      geração de coração inconstante, que não tem espírito fiel a Deus.

9     Os filhos de Efraim, arqueiros equipados, voltaram as costas no dia da batalha,

10    não guardaram a aliança de Deus, recusaram seguir a sua lei.

11    Esqueceram os grandes feitos dele e as maravilhas que lhes mostrara,

12    quando realizou a maravilha diante de seus pais, na terra do Egito, no campo de Tânis:

13    ele dividiu o mar e os fez atravessar, barrando as águas como num dique.

14    De dia os guiou com a nuvem, e de noite com a luz de um fogo.

15    Fendeu a rocha no deserto e lhes deu a beber águas abundantes.

16    Da pedra fez brotar torrentes, e as águas desceram como rios.

17    Mas continuaram pecando contra ele, rebelando-se contra o Altíssimo no deserto.

18    Tentaram a Deus em seus corações, pedindo comida conforme seu próprio gosto.

19    E falaram contra Deus: Poderá Deus preparar uma mesa no deserto?

20    Então ele feriu a rocha, a água brotou, e as torrentes transbordaram.

      Acaso poderá também nos dar pão ou fornecer carne ao seu povo?

21    Ouvindo isso, Javé se enfureceu; um fogo acendeu-se contra Jacó e a ira se ergueu contra Israel.

22    Porque eles não tinham fé em Deus, nem confiavam no auxílio dele.

23    Entretanto, ele ordenou às altas nuvens e abriu as comportas do céu:

24    fez chover sobre eles o maná, deu-lhes um trigo do céu.

25    O homem comeu pão dos anjos, Deus mandou-lhes provisões em fartura.

26    Fez soprar no céu o vento leste, e com seu poder trouxe o vento sul:

27    sobre eles fez chover carne como pó, aves numerosas como areia do mar,

28    fazendo-as cair no meio do acampamento, ao redor de suas tendas.

29    Eles comeram e ficaram saciados, pois ele os atendeu conforme queriam.

30    Mas não haviam satisfeito o apetite, tinham ainda a comida na boca,

31    quando a ira de Deus contra eles se ergueu: ele massacrou os mais fortes, e prostrou a juventude de Israel.

32    Apesar disso, continuaram a pecar, e não tinham fé nas maravilhas dele.

33    Consumiu-lhes os dias num sopro e seus anos num momento.

34    Quando os matava, então o buscavam, madrugando para voltar-se para Deus.

35    Recordavam que Deus era sua rocha, que o Deus Altíssimo era o seu redentor.

36    Eles o adulavam com a boca, mas com a língua o enganavam.

37    O coração deles não era sincero com Deus, não eram fiéis à sua aliança.

38    Ele, porém, compassivo, perdoava as faltas e não os destruía.

      Reprimia sua ira muitas vezes, e não despertava todo o seu furor.

39    Lembrava-se de que eles eram apenas carne, um vento que se vai, para nunca mais voltar.

40    Quantas vezes o afrontaram no deserto e o ofenderam em lugares solitários!

41    Voltaram a tentar a Deus, a irritar o Santo de Israel.

42    Não se lembravam de sua mão, que um dia os resgatou da opressão:

43    quando operou seus sinais no Egito, e seus prodígios no campo de Tânis.

44    Quando transformou em sangue seus canais e suas torrentes, privando-os de beber.

45    Quando lhes mandou moscas que os devoravam, e rãs que os devastavam.

46    Quando entregou às larvas suas colheitas, e seu trabalho aos gafanhotos.

47    Quando destruiu sua vinha com granizo, e seus sicômoros com geada.

48    Quando abandonou seu gado à saraiva, e aos relâmpagos o seu rebanho.

49    Quando lançou contra eles o fogo de sua ira: cólera, furor e aflição, anjos portadores de desgraças;

50    ele deu livre curso à sua ira, não mais os preservou da morte, mas à peste entregou suas vidas.

51    Quando feriu todo primogênito no Egito, as primícias da raça nas tendas de Cam.

52    Fez seu povo partir como rebanho, e como ovelhas conduziu-os pelo deserto.

53    Guiou-os com segurança, sem alarme, enquanto o mar cobria seus inimigos.

54    Introduziu-os pelas fronteiras santas, até a montanha que sua direita conquistara.

55    Expulsou da frente deles as nações, e designou por sorte uma herança para eles, colocando em suas tendas as tribos de Israel.

56    Ainda assim tentavam e afrontavam o Deus Altíssimo, recusando guardar seus preceitos.

57    Desviaram-se, traíam como seus pais, voltavam atrás como arco infiel.

58    Com seus lugares altos o indignavam, e o enciumavam com seus ídolos.

59    Deus ouviu e ficou enfurecido, e rejeitou Israel completamente.

60    Abandonou sua moradia em Silo, a tenda onde habitava entre os homens.

61    Entregou seus valentes ao cativeiro, e seu esplendor à mão do opressor.

62    Abandonou seu povo à espada, e se enfureceu contra a sua herança.

63    Seus jovens foram devorados pelo fogo, e suas virgens não tiveram canto de núpcias.

64    Seus sacerdotes caíram sob a espada, e suas viúvas não entoaram lamentações.

65    E o Senhor acordou como alguém que dormia, como valente embriagado pelo vinho.

66    Feriu seus opressores pelas costas e para sempre os entregou à vergonha.

67    Rejeitou a tenda de José, e não elegeu a tribo de Efraim.

68    Escolheu a tribo de Judá, e o monte Sião, seu preferido.

69    Construiu seu santuário como o céu, e o firmou para sempre, como a terra.

70    Escolheu Davi, seu servo, e o tirou do aprisco das ovelhas.

71    Da companhia das ovelhas o tirou para apascentar Jacó, seu povo, e Israel, sua herança.

72    Ele os apascentou de coração íntegro, e os conduziu com mão inteligente.